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[Reportagens] A produção de um blockbuster

Para o “reportagens especiais” deste mês, o D13 escolheu um texto bem interessante publicado no site da revista online Salon, em março. Ele fala sobre o processo de publicação de um livro, desde a escolha, pelas editoras, de um título apropriado para ser lançado, até as pessoas que influenciam o sucesso de determinada obra, como os leitores e alguns donos de livrarias. E como isso tem relação com Jogos Vorazes? Bem, para falar sobre este tema eles utilizaram o livro de Suzanne Collins – e o fato de que ele foi adaptado para o cinema – para falar sobre todo esse processo. É um texto bem legal para fãs terem uma ideia de como são os bastidores da chegada de um livro ao sucesso.

O texto original se encontra aqui e a tradução você pode conferir abaixo.

A PRODUÇÃO DE UM BLOCKBUSTER

Por Laura Miller publicado em 18 de março de 2012

Exclusivo do Salon: A história dos bastidores dos leitores e vendedores de livros que lançaram a franquia Jogos Vorazes.

“Você não sabe quantas vezes eu assisti a isso,” disse Caitlin, 10, sobre o trailer de Jogos Vorazes, um filme baseado no primeiro de três sombrios e brutais romances de sucesso, de Suzanne Collins. Um menino de sua escola lhe disse que ela precisava ler o primeiro livro, e depois disso, “minha mãe disse que eu comecei uma revolução,” passando os livros de um colega para outro. Agora estão todos obcecados. A avó de Caitlin (também fã) fez uma réplica da mochila com utensílios de sobrevivência que a heroína do livro, Katniss Everdeen, consegue no começo da competição de vida-e-morte, que ocorre em uma América sombria do futuro. Caitlin e seus amigos mais próximos falam sobre Jogos Vorazes várias vezes ao dia, se apelidaram com os nomes dos personagens e estão indo fundo nos planos de fazerem seu próprio vídeo sobre o livro. Quando a versão de Hollywood estrear na sexta, eles estarão lá, celebrando o aniversário de Caitlin ao assistir a sessão de estreia em um cinema de San Francisco. O único outro filme pelo qual ela ficou tão animada foi Harry Potter e as Relíquias da Morte. A franquia Jogos Vorazes, com a atriz indicada ao Oscar, Jennifer Lawrence, no papel principal, busca uma vaga em um espaço seleto: adaptações de livros infantis de sucesso que se tornaram grandes sucessos de bilheteria. Os filmes de Harry Potter estabeleceram o exemplo, e os filmes de Crepúsculo provaram que o fato poderia ser refeito. Até agora, as chances de Jogos Vorazes parecem boas, de acordo com uma enquete conduzida pelo site da MTV, Nextmovie.com, a versão em filme do romance jovem adulto distópico de Collins é ainda mais ansiosamente esperado do que A Saga Crepúsculo: Amanhecer Parte 2.

Ser transformado em um filme pode fazer muito por um livro. Mas considere o impulso que um livro tão popular como esse pode dar para um filme. As séries Harry Potter e Crepúsculo mostraram públicos obsessivamente devotados, que especulavam sobre a escolha do elenco anos antes de os filmes serem lançados, que debateram e se debruçaram sobre cada still, pôster, teaser, trailer – em suma, cada pedaço de novidade da, ainda por vir, versão cinematográfica de seus personagens e histórias favoritas. Eles amaram esses livros como somente crianças conseguem, com uma intensidade que faz fã-sites se proliferarem e festas de sessão de lançamento à meia-noite disputadas em suas ordinariamente sonolentas livrarias dos bairros. Jogos Vorazes é esse tipo de série, talvez para um tipo de adolescente mais sério, amante de ficção científica. E então há os fãs adultos. A atriz Kristen Bell (estrela da série de TV cult, Veronica Mars) recentemente disse ao Huffington Post que “Jogos Vorazes é tudo o que eu penso.” Bell fez uma festa elaborada com o tema de Jogos Vorazes para seu aniversário de 30 anos: “Todos os meus amigos se vestiram como os personagens e eu me vesti como a Katniss [Everdeen, a heroína dos livros].” Quanto à escrita, o primeiro livro na série Jogos Vorazes têm estado na lista dos maios vendidos da USA Today por 132 semanas; o segundo, Em Chamas, por 131. Há mais de 24 milhões de cópias de todos os três livros impressas. Diferente da série Harry Potter, que tinha um público (originalmente) infanto-juvenil, esse é um épico jovem-adulto com uma premissa particularmente obscura: Em uma versão futura da América chamada Panem, 12 distritos subordinados a uma autoridade central devem, cada um, enviar um par de crianças para competirem em um concurso do qual apenas um sairá vivo. Em contraste claro ao romance meloso de vampiros da série Crepúsculo, as muitas sequências angustiantes em Jogos Vorazes tornam os livros igualmente atraentes para meninos e meninas.

É indicativo da segregação do mundo dos livros que se você não tem filhos adolescentes, você provavelmente não tenha ouvido falar de Jogos Vorazes até bem recentemente, apesar de que por vários anos o sucesso do livro tenha rivalizado com o de A Resposta e de Os Homens que Não Amavam as Mulheres. Embora ambos Harry Potter e Crepúsculo tenham demonstrado que há um considerável público adulto para alguns livros infantis, o gênero ainda é (principalmente) resenhado em publicações separadas, organizados em estantes em suas próprias seções das bibliotecas e muitas vezes vendidos em lojas diferentes. De fato, a publicação de livros infantis funciona bem diferentemente de uma de adultos. E sob muitos aspectos, isso é algo bom.

Com o título certo, uma publicação infantil pode desenvolver algo com o qual o mundo da publicação adulta pode apenas sonhar: um grande, altamente social, grupo de profissionais e semi-profissionais formadores de opiniões, que podem transformar o livro em um sucesso antes mesmo de ser publicado. Isso foi o que aconteceu com Jogos Vorazes, que pousou na lista de mais vendidos do New York Times – há listas separadas para livros infantis – na semana do lançamento. No mundo pós Harry Potter e Crepúsculo, séries infantis que estouram, como Jogos Vorazes, automaticamente atraem o interesse de produtores de filmes de grandes orçamentos de Hollywood. Isso significa que a legião geralmente invisível de especialistas que colocaram Jogos Vorazes na lista de mais vendidos estará determinando alguns dos filmes de sucesso que você verá em seu cinema local alguns anos à frente.

Vejam as críticas obrigatórias das editoras e seus métodos antiquados. Mas antes de chegar a isso, é essencial compreender o enlouquecedor paradoxo central que confronta todo o mercado de livros, de veneráveis editoras de Nova York a minúsculas gráficas independentes: a única coisa que seguramente vende livros é o boca a boca, de preferência uma recomendação pessoal de um amigo confiável. Uma muito bem sucedida divulgação em massa de livro da nossa época, o Oprah Book Club [Clube do Livro da Oprah, em tradução livre], era apenas isso – o aval de alguém com o raro dom de convencer milhões de pessoas de que elas a conhecem muito bem.

Propagandas e resenhas e comentários no Facebook ou Twitter não ajudam muito se o autor não tiver muitos seguidores. Um livro demanda mais tempo e energia de seus consumidores do que um filme ou uma música, e leitores cada vez mais precisam de muitas indicações antes de estarem dispostos a tentar algo novo. (Pense nisso: nós todos temos amigos que ocasionalmente nos indicaram algo ruim, mas se vários deles estão loucos por um mesmo livro, parece uma aposta muito mais segura.) Quando você não consegue persuadir alguém para ler seu livro até que alguém mais o tenha lido e aprovado, você está no limbo – como o provérbio do homem que procura um emprego e não consegue ser contratado sem experiência, mas não consegue experiência sem um emprego.

Muitas das práticas mais misteriosas da indústria de publicações são métodos para contornar esse dilema. Começa antes mesmo de um livro ser impresso. Aqueles que não estão acostumados com os costumes peculiares das editoras podem se perguntar sobre a mística em torno do “entusiasmo em casa”, um fator chave para o sucesso de qualquer livro, quer seja para adultos ou crianças. Em um mundo ideal, as editoras ficariam entusiasmadas com todo livro que publica, certo? Mas muitas vezes o manuscrito não preenche a promessa da proposta, ou o romance que um editor adora não impressiona mais ninguém. A habilidade de um livro de gerar interesse em vários membros da equipe é um primeiro sinal para a editora de que pode dar certo. Esse é o início do longo e elaborado processo de seleção que separa os livros comuns dos sucessos e que acontece, em maior parte, antes mesmo dos balconistas tirarem os livros das caixas.

Jogos Vorazes começou com uma vantagem. Scholastic Books, a editora de Collins, havia ido bem com a série anterior dela, The Underland Chronicles, cinco livros infanto-juvenis (idades de 8 a 12) sobre um menino que descobre um fantástico mundo sob as ruas de Nova York. Com isso em mente; Scholastic comprou Jogos Vorazes pela força de uma proposta de quatro páginas cobrindo todos os três livros da trilogia jovem-adulta projetada. No verão de 2007, Collins entregou o manuscrito do primeiro livro para três editores, incluindo o diretor editorial executivo da Scholastic, David Levithan, e Kate Egan, uma freelancer que havia trabalhado em todos os livros da Collins.

Levithan e Egan estiveram entre os primeiros leitores a serem sugados para a irresistível narrativa de Collins. O livro começa com o sorteio da 74ª Edição dos Jogos Vorazes na sofrida região mineira do Distrito 12. A heroína, Katniss Everdeen de 16 anos, tem habilidades com arco e flecha; sua família sobrevive de suas caças furtivas. No sorteio, a amada irmãzinha de Katniss é selecionada como tributo (uma sentença de morte para alguém tão novo), e Katniss se oferece para ir aos Jogos no lugar dela. Ela é levada embora para a decadente Capital, onde ela passar por um treinamento – e uma transformação fabulosa – junto com seu companheiro tributo do Distrito 12, Peeta, o filho do padeiro. Tudo isso leva aos próprios Jogos, realizados em uma imensidão cercada, onde os tributos batalham por comida, suplementos e armas, enquanto câmeras invisíveis transmitem cada passo deles.

Jogos Vorazes é um romance que leva ao pé da letra o famoso ditado de Billy Wilder para roteiristas: “Agarre-o pela garganta e não o solte.” Antes dela ir para os livros, Collins, que tem uma história no teatro, escrevia programas infantis de televisão para Nickelodeon. “Eu acho que escrever para televisão em episódios, saber que você tem que ter essa tensão crescente e decrescente, e terminar os episódios em um ponto exato, ajudou-a muito,” disse sua agente, Rosemary Stimola. Karen Springen, uma antiga repórter do Newsweek e uma das primeiras jornalistas a enaltecer Jogos Vorazes, coloca dessa forma: “Ela sabia como fazer ganchos que fizessem você voltar após os comerciais. Cada capítulo deixa um ganho, e cada livro deixa um gancho.”

Os funcionários da Scholastic começaram a passar ansiosamente o manuscrito pelo escritório. Foi a primeira agitação do que se tornaria uma onde de boca a boca. “Quando você tem esse tipo de livro,” disse Rachel Coun, diretora executiva de marketing, “em que assistentes de outros departamentos, mesmo que não seja o trabalho deles, vêm perguntar para o pessoal porque eles ouviram que é mesmo ótimo, você sabe que você tem algo.” “Nós fizemos muitas cópias,” disse Levithan. “Saindo da conferência de vendas de outono, todos sabiam que a melhor maneira de gerar entusiasmo a respeito de Jogos Vorazes era fazer as pessoas lerem Jogos Vorazes.” Isso não é tão fácil quanto parece; mais de 20.000 novos livros infantis são publicados anualmente, e as pessoas que a Scholastic precisava atingir – pessoas fora da empresa – estão se afogando em pilhas de livros chegando de editores esperançosos.

Em janeiro, a equipe de marketing do livro decidiu enviar cópias do manuscrito no lugar das provas bem encapadas, que são tipicamente enviadas a profissionais da indústria antes da versão final de um livro sair da gráfica. “Nós não queríamos esperar até termos as cópias antecipadas,” disse Levithan. “Nós queríamos que livreiros e bibliotecários importantes lessem o livro o mais rápido possível.” Tão importante quanto o momento, uma escolha como essa faz parte de um sistema informal entre editores e os todo-importantes primeiros leitores de quaisquer novos livros infantis. Um manuscrito em cópia Xerox, encadernada transmite tanto a urgência quanto a convicção de que é um título que não precisa de nenhuma embalagem atrativa para causar uma boa impressão. “Sinaliza que é algo que eles acham que é especial,” disse Andrew Medlar, especialista em material de jovens da Biblioteca Pública de Chicago. “Não é algo que fazemos frequentemente,” Levithan concordou.

Os representantes de vendas da Scholastic receberam um número limitado de manuscritos para distribuir para suas listas de “grandes bocas,” gíria de editores de livros infantis para livreiros que têm muita influência com seus colegas. Essas pessoas dirigem associações regionais, organizam feiras de livros e eventos em escolas. Professores e bibliotecários os procuram para dicas boas sobre novos títulos infantis.

Carol Chittenden, uma clássica “boca grande”, é uma das donas da livraria Eight Cousins em Falmouth, Massachusetts e fundou o Conselho Consultivo de Vendedores de Livros Infantis de New England, o qual (entre outras coisas) mantém um site em que os membros podem trocar opiniões sobre títulos a serem lançados. Sua aconchegante livraria infantil em uma pequena cidade de Cape Cod pode parecer bem distante de Hollywood, mas pessoas como Chittenden – que tem vendido livros infantis por 22 anos e que instantaneamente reconheceu Jogos Vorazes como algo grande – são as fontes de boca a boca, uma espécie viral do marco zero, onde fenômenos como o fandom de Jogos Vorazes nascem. Essas pessoas são, afinal, as que fizeram de Harry Potter um nome familiar.

Nós agora chegamos a um precário cruzamento no destino de qualquer livro, aquele momento em que ele sai das mãos do editor, que tem um grande interesse no seu sucesso, e sob o escrutínio dos juízes mais duros. Conseguir que grandes nomes como Medlar e Chittenden leiam o livro inicialmente é metade da batalha. Representantes de vendas como Nikki Mutch, que deram a Chittenden sua cópia do manuscrito de Jogos Vorazes, são um canal importante entre os editores e livreiros, um nó crucial onde, se tudo der bem, traduz o entusiasmo em casa para o burburinho do mundo real. O título de “representante de vendas,” com suas conotações de Willy Lomanesque carregando uma mala, não transmite o encanto persuasivo que estes homens e mulheres podem exercer, a sua credibilidade, se eles usarem sabiamente, pode ser imensa. “Confiamos totalmente nela,” disse Heather Hebert, gerente da Children’s Book World em Haverford, na Pensilvânia, sobre sua representante de vendas da Scholastic. “Ela definitivamente foi a razão pela qual todos nós lemos [Jogos Vorazes] imediatamente. Quando ela diz que é bom, é bom.”

Se a emoção na sede consegue transmitir aos representantes de venda da editora no setor, e os representantes, por sua vez, transmitem isso aos livreiros, e se o departamento de marketing convence os principais bibliotecários infantis de dar um empurrão no livro, então isso é um bom começo. Mas um livro ainda pode travar, se a primeira linha de leitores experientes não se impressionar. Jogos Vorazes, no entanto, começou a impressionar as “grandes bocas”. Rachel Coun e a chefe de publicidade da Scholastic, Tracy van Straaten, começaram a compilar depoimentos de livreiros e bibliotecários, muitos dos quais se queixaram de ficarem acordados durante toda a noite, compulsivamente lendo o manuscrito; então, eles incorporaram as citações em sua campanha de marketing, lembrando as redes mais amplas que os líderes de seu setor estavam amando o livro.

Naquela primavera, seis meses antes de Jogos Vorazes ser publicado em setembro, as cópias adiantadas oficiais dos leitores estavam entre alguns dos mais cobiçados itens nas conferências e convenções em que os editores apresentam seus títulos para livreiros e bibliotecários.

No início do verão, Publishers Weekly, a publicação dessa indústria, publicou uma história sobre como a Scholastic duplicou impressão do livro, em resposta a “elogios antecipados, especialmente on-line, onde os comentários estavam enchendo blogs e listas.” O livro estava em seu caminho para o status de best-seller antes mesmo de a arte da capa – um dilema importante para a Scholastic – ter sido finalizada.

Para qualquer pessoa acostumada aos métodos, muitas vezes casuais, de marketing de livro adulto, o aparato empacotado em representação de livros infantis antes e após a publicação é tanto inspirador e invejável. Esta é a rede social dos velhos tempos — conferências, apresentações, eventos em lojas, recomendações pessoais aos clientes e colegas (referido como “venda a mão” no comércio de livros) — com ainda mais poder por causa da nova tecnologia. Cada livreiro e bibliotecário infantil que eu contatei para esse artigo pertence a pelo menos uma lista onde eles avaliam constantemente novos livros com seus colegas. Meses antes de “Jogos Vorazes” ser publicado, Kathleen Horning, que trabalha no Cooperative Children’s Book Center em Madison, Wisconsin, um centro de recursos para bibliotecários, criou um fórum para os livros no Goodreads, uma rede social para amantes de livros com mais de 6 milhões de membros, para que ela pudesse conversar sobre isso com alguém que tivesse também em mãos uma cópia antecipada. Isso prosperou quando o livro foi publicado.

A maioria dos livreiros e bibliotecários querem promover a leitura, mas nenhum é mais evangélico do que os que se especializam em livros infantis. Livros adultos podem possuir as avaliações e listas de best-sellers mais proeminentes, mas há setores inteiros e profissões — com postos avançados em todas as cidades nos Estados Unidos — que fizeram de sua missão levar as crianças a ler mais livros. Não há instituições com o alcance e dedicação equivalentes quando se trata de promover a leitura para adultos.

Uma bibliotecária escolar como Alli Decker, bibliotecária-chefe da Escola St. Mark em San Rafael, Califórnia, pode não ter o alcance da Oprah, mas ela tem uma profundidade muito maior quando se trata de colocar um livro nas mãos de um de seus alunos. “No melhor cenário possível,” explicou ela, “eu os conheço desde o primeiro grau, quando começaram a ler de forma independente, por cima. Eu sei quem posso desafiar e quem não posso. Eu sei quem está disposto a experimentar algo novo e quem não está.” “ Isso é o que os bibliotecários [infantis] basicamente querem fazer,” disse Horning: “encontrar livros que as crianças realmente querem ler.”

Nesse ponto, os bibliotecários têm aperfeiçoado a arte de conversar sobre livros: Horning descreve “Jogos Vorazes” como “um livro muito divertido para se conversar sobre.” Uma conversa sobre livros é um discurso, de vários minutos, feito para bibliotecários, professores, pais e jovens usuários da biblioteca. Bibliotecários são convidados a falar em escolas e livrarias, ou viajar para filiais para ajudar a preencher as lacunas de bibliotecários locais sobrecarregados. Eles são, com efeito, vendedores não oficiais que viajam por causa dos livros que eles amam, apoiados pelo aparato de instituições respeitadas, com financiamento público. Pais e professores que estão muito ocupados para se manter atualizados com novos livros para crianças tratam os seus conselhos como mandamentos. Andrew Medlar da Chicago Public Library não apenas pede livros para 79 filiais e fala de seus títulos favoritos para sua equipe, ele compila listas de recomendações que são lançadas no site da biblioteca e distribui em escolas, livrarias e bibliotecas. Ele também os indica para prêmios importantes.

Sua premissa de alto conceito fez de Jogos Vorazes um candidato ideal para conversas. “É um dos livros mais fáceis para o interesse de uma criança na leitura,” explicou Horning. Claro, bibliotecários e professores nem sempre amam os mesmos livros que as crianças amam. Ao longo dos anos, eles tentaram orientar seus fregueses para longe do que foi visto como de baixa qualidade, se populares, séries de ficção: as histórias de detetive de Hardy Boys, a série de terror Goosebumps, e contos chamativos do hedonismo adolescente como os livros Gossip Girls.

Jogos Vorazes, em contraste, acerta o que Chittenden chama de “o ponto doce do mercado”. O triângulo amoroso de Katniss, Peeta e Gale (o garoto que Katniss deixou para trás no Distrito 12), combinado com o combate e a aventura dos Jogos em si, apelam para um amplo espectro de leitores adolescentes e jovens. Pais, professores e bibliotecários aproveitam o comentário social e político em representação no romance por um governo autoritário, uma subclasse explorada e a mania de assistir reality shows levados a extremos grotescos.

“Havia muitas formas que os professores do ensino médio poderiam usar isso em seu currículo que nós sentimos que era importante para eles saberem disso,” disse Heather Hebert de Children’s Book World em Haverford, Pa. Uma tarefa de sala de aula resultará em múltiplas vendas, o que é o porquê de muitos livreiros compartilharem cópias antecipadas de livros promissores com educadores locais. “Nós obtemos umas cópias antecedentes extras e damos para os professores,” diz Betsy Wilkins da Livraria Anderson, que tem duas lojas em Illinois. “Eles começam a ler aquele livro em voz alta em sala de aula para as crianças, só para provocá-los com os primeiros capítulos.” Então, “enviamos um formulário de pré-venda para todas as crianças poderem comprá-lo.” É uma estratégia que funcionou como um encanto como um tráfico de droga.

Um professor de ensino médio com quem Wilkins trabalha gosta de mobilizar toda a escola na realização de elaborados eventos inspirados em livros. Poucas semanas depois da publicação de Jogos Vorazes, Collins fez uma aparição pessoal na escola. Ela foi homenageada com um verdadeiro espetáculo. Os estudantes marcharam até a autora fantasiados como os tributos dos distritos, a classe de língua inglesa e literatura fez cartazes com citações do romance (para ilustrar tais artifícios retóricos como a ironia) e a classe de artes recriou uma das definições na Arena. Mesmo a turma empresarial participou do orçamento, levantando dinheiro e finalmente encomendando um pingente do emblema de Katniss, um pássaro chamado tordo, para dar a Collins no evento.

É difícil imaginar o primeiro livro em qualquer série adulta que está sendo saudado com um grande barulho: burburinho, palestras e elogios por meses antes de aparecer em qualquer mostruário de livraria. Quando Jogos Vorazes finalmente chegou ao seu público-alvo, 12 à 18 anos, mostrou-se como um grande sucesso como Chittenden e seus colegas tinham previsto. Crianças, descobriu-se, adoraram tanto quanto todos aqueles adultos que fizeram disso o trabalho de sua vida para descobrir que as crianças vão adorar os livros. (Vai entender.) A partir desse ponto, isso só ficou mais quente: Não há placa de Petri mais fértil para crescer no boca-a-boca do que uma escola secundária. Quando Em Chamas foi publicado no ano seguinte, ele imediatamente disparou para a 1º colocação na lista dos mais vendidos do USA Today.

Jogos Vorazes também chegou num momento em que muitos leitores adultos se voltaram para ficção jovem-adulta para sua própria leitura recreativa. Vários livreiros citam um boom de blogs jovens-adultos como contribuidores para espalhar notícias sobre a série. “Os blogueiros nós conhecemos,” disse Hebert, “os quais vêm em nossa loja o tempo todo e para os nossos eventos, eles parecem ser mulheres nos seus 20 e poucos anos. Eles não são adolescentes, mas eles não têm famílias, a maioria deles.” Esses blogueiros se intercomunicam uns com os outros constantemente por meio de Twitter e Facebook, e quando as sequências de “Jogos Vorazes” saíram, eles eram muitas vezes os primeiros da fila para as festas de lançamento à meia-noite. “Eles são ótimos, porque eles ficam tão entusiasmados quanto nós ficamos,” disse Hebert. “E eles podem realmente vir à meia-noite. Muitos de nossos clientes são jovens demais para ficar até tão tarde.”

A Scholastic não só sentou e assistiu a tudo isso acontecendo. Eles agarraram livreiros e bibliotecários em conferências com livros na mão, insistindo que todos eles soubessem que tinham que ler uma cópia antecipada, logo que possível. Eles distribuíram banners, relógios de contagem regressiva e um book trailer bastante sinistro. Eles passaram por inúmeras iterações da capa antes de se decidir por um icônico emblema de tordo como uma imagem unissex adequada para a franquia. Mas, como os editores americanos do maior fenômeno boca-a-boca de todos, Harry Potter, eles também se curvaram ao poder do que van Straaten chama de “kismet”. Com Jogos Vorazes, “Temos isso nas mãos das pessoas certas. Isso é o que os editores fazem,” ela disse. “Você está aproveitando uma coisa para construir a próxima coisa. Você precisa do entusiasmo internamente para convencer a primeira camada de porteiros. Depois de ter os elogios daquelas pessoas, você pode obter essas pessoas, e assim por diante.” “O mundo viral muda mensalmente,” disse Coun da Scholastic, “então nosso marketing tem que mudar junto com ele. Ainda assim, a coisa tradicional — você leu o livro e é um grande livro — é o que vai vendê-lo mais.”

Até agora você já deve ter percebido que dois elementos proeminentes da paisagem da publicação de livros — Amazon e ebooks — ainda têm que surgir nesta história. Enquanto a Amazon foi tão entusiasta quanto as outras livrarias sobre a publicação de Jogos Vorazes (Collins é membro eleito do Kindle Million Club — uma meia dúzia de autores que venderam mais de um milhão de títulos no formato Kindle), a venda online simplesmente não tem a presença na comunidade de uma livraria física infantil.

Professores do ensino médio não estão verificando com Jeff Bezos para descobrir o que atribuir a suas turmas no próximo outono. Pais desesperados não lhe pedem por um título que vai fazer seus filhos de 14 anos lerem novamente. Além disso, adolescentes e crianças mais jovens ainda procuram listas nas livrarias e bibliotecas como as principais formas de descobrirem sobre novos livros e autores. Eles têm sido muito mais lentos para adotar e-books do que os leitores mais velhos. Alguns observadores acham que isso é porque os dispositivos e-reader são demasiado caros para as crianças, outros dizem que as crianças vêem livros impressos como uma pausa agradável de olhar para telas todo o dia. Títulos jovens-adultos estão vendendo bem em várias plataformas de e-book, mas ninguém sabe quantos desses livros estão sendo comprados pelo leitor adulto crescido de literatura jovem-adulta.

A possibilidade de Jogos Vorazes atravessar para leitores adultos (o Santo Graal para os comerciantes de livros infantis) teve o seu primeiro grande impulso público quando Stephen King fez a crítica para a Entertainment Weekly (mesmo que ele apenas tenha dado um B) poucos dias depois de o livro ser lançado. Não muito tempo depois, Stephenie Meyer, cujo Crepúsculo também fez avanços significativos com adultos leitores, elogiou “Jogos Vorazes” em seu blog: “Eu estava tão obcecada com este livro que tive que levá-lo comigo para jantar fora e escondê-lo sob a borda da mesa, então eu não teria que parar de ler,” escreveu ela. Este foi maior. Meyer não tem apenas um monte de fãs, ela tem um monte de fãs que vão ler basicamente qualquer coisa que ela mandar.

Como a recomendação de Meyer aconteceu? Van Straaten, como um monte de publicitários de livros infantis, tem um hábito de enviar cópias antecipadas de seus próprios títulos favoritos da Scholastic a seus colegas. Uma das pessoas a quem enviou Jogos Vorazes foi a assessora de Meyer, que amou o livro e — mesmo que seja publicado por uma outra casa — insistiu nele com Meyer. Sugerindo que a criadora da principal propriedade de sua empresa talvez possa querer conectar um novo produto de uma concorrente seria impensável na maioria das outras indústrias. Mas naquele momento, nenhuma das duas mulheres estava pensando sobre o negócio. Eram apenas duas leitoras, espalhando a notícia.

21 de abril de 2012 às 21:00
3
Comentários
  1. @lu_shiga disse:

    Muito interessante o texto e o trecho ” nós todos temos amigos que ocasionalmente nos indicaram algo ruim, mas se vários deles estão loucos por um mesmo livro, parece uma aposta muito mais segura” me fez lembrar de muitas indicações que eu já tive de amigos (inclusive minha leitura atual, As crônicas de gelo e fogo, que serviu de base para o Game of Thrones, foi indicação de um amigo e eu amei *-*)… estou esperando minha amiga terminar de ler Jogos Vorazes para me emprestar, fiquei mais empolgada ainda depois dessa matéria

  2. Karem disse:

    Gostei muito da matéria! Obrigada pela dedicação e tradução!!

  3. Yago disse:

    Céus, até quando alguns fãs de Jogos Vorazes vão ficar com essa idiotice de ficar falando que Harry Potter é infantil e Jogos Vorazes é adulto. Que a história de Harry Potter é pra crianças e a de Jogos Vorazes é pra adultos?
    Pra começos de conversa, sem Harry Potter a maioria de nós dessa geração hoje provavelmente estaria fazendo 1215452124254 coisas, menos lendo um livro. A série Harry Potter começou como uma fábula infanto-juvenil até se tornar livros maduros e adultos. Foram dez anos onde crianças cresceram com Harry, os temas de tornaram mais pesados, a escrita, a trama e as motivações.
    Adoro Jogos Vorazes, mas pra elogiar elogio porque gosto. Acho ridículo isso de ficar “Ah, Jogos Vorazes é ótimo porque, diferente de Harry Potter que era pra crianças, essa é uma história “para adultos” épica…”
    Jogos Vorazes são apenas 3 livros, e o hoje o que dá dinheiro é o mercado jovem. Então a Suzanne preferiu abarcar a geração que já havia crescido lendo, não fazer uma geração inteira crescer lendo até a maioridade onde os livros amadureciam e tornavam-se adultos também.

    Pra quem não sabe os 4 últimos Harry Potter’s venceram como ‘Melhor Livro do Ano’ a premiação da YALSA – YOUNG ADULTS Library Society of America. Premiação destinada à livros escritos para Jovens Adultos, a mesma premiação que premiou Jogos Vorazes em 2009 como melhor livro do ano, e deu o 3° lugar para Em Chamas em 2010. Coisa besta essa de usar isso como argumento, até Guerra dos Tronos que tem sexo e estupro é mais consumido por Jovens Adultos do que os “adultos” que os fãs de JV dizem que leem a trilogia. Não se vocês sabem mas o que define um livro como “infantil” ou “adulto” é o direcionamento e o tipo da escrita, antes do tema abordado.
    É tudo para o mesmo público, querem elogiar e ter respeito? Então não fica comparando. Tinha que ser revista dos EUA.

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